19 de mar. de 2013

Crônica: Literatura Nacional e os Leitores


Outro dia li a opinião em um blog, falando sobre literatura, perguntava se as pessoas liam livros brasileiros.

E penso como é interessante ver que há qualidade na literatura nacional. Uso de ironia nessa parte, pois leio vários blogs e seus comentários, muitos dizem não conhecer, ou não acreditar que existam no país autores e livros interessantes. Confessam que as histórias de fora é que encantam, isso quando conhecem as daqui.

– Não conheço autores nacionais – dizia uma leitora do tal blog. Não dá vontade de ser um amor e mandar alguns links do próprio blog comentado?

Isso me faz pensar que as pessoas não leem os posts, e comentam assim mesmo. Pois cada vez mais vejo blogueiros divulgando a literatura brasileira, principalmente a contemporânea. E como a pessoa diz que não conhece?

Lembro que no início do Mundo de Fantas os leitores se encantavam em saber que temos autores como André Vianco, mas hoje, não é quase segredo – não era também na época, mas a literatura fantástica era/é algo internacional, na visão de muitos. Autores nacionais apenas Machado de Assis, Jorge Amado... não os desmerecendo, jamais, porém, é sabido que a maioria dos jovens tem medo de se aventurar na leitura de um clássico internacional, imagina nacional, quando o produto interno é quase sempre desvalorizado? Eu mesma fui influenciada de forma ruim.

– Machado de Assis é antigo, linguagem e histórias chatas – diziam professores, colegas, tios e primos. Para eles, Machado de Assis é complicado, de leitura enfadonha. Mas eu, em minha vontade de entender o motivo de tudo isso, li e me arrependi de não ter feito antes.

Foi Esaú e Jacó que me abriu os olhos para a maravilha nacional. A riqueza de histórias, que, para quem não sabe, são extremamente valorizadas lá fora. Jorge Amado é leitura recomendada em escolas portuguesas, por exemplo.

Como disse, cresci ouvindo pessoas que detestavam a literatura brasileira, muitas vezes sem ler – sim, poucos da minha família leem ainda hoje, tive sorte de crescer na parte leitora.

– Você tem o livro A Escrava Isaura? – perguntou minha prima. Eu, toda feliz por seu interesse, logo peguei o livro e entreguei. Ela abriu nas últimas páginas, me devolveu e disse: – Então é assim que termina a novela.

Outro dia, conversando com outra pessoa da família, ela me solta um “concerteza”, é de se acabar a amizade, mas respirei fundo e disse que precisava trabalhar.

Mas posso ter sorte. Desde pequena tive livros nas mãos, não me interessava por muitos de literatura, mas sobre o folclore, por exemplo.

Meus pais nunca diziam: – Larga esse livro, menina, vai estragar! – sempre incentivaram a mim e a meu irmão a ler. Em casa cada um tinha sua estante. Meu pai prefere os livros técnicos e sobre a história da religião. Minha mãe tem seus livros de religião, também. Meu irmão tem sua parte de História, clássicos, policiais... e por aí vai. Eu adoro romances juvenis, clássicos, policiais, terror, de todas as nacionalidades.

Hoje, a cada dia, descubro mais autores nacionais, contemporâneos, clássicos, livros que encantam e me fazem ver e ter a certeza de que o Brasil dos livros infelizmente ainda não foi descoberto pelos jovens. Mas tenhamos esperanças.

Celly Borges

Leia também:
+ Que tal ler um clássico nacional?

11 comentários:

  1. Olha, eu não conheço a fundo o fandom nacional, embora acompanhe autores e livros que me interessam com muito interesse. Tem material de qualidade o suficiente pra vc ficar muito ocupado lendo e lendo e lendo. Mas, mesmo nessa minha pouca experiência com o meio, percebi um certo padrão entre alguns escritores novatos. Não tenho certeza se é um padrão, na verdade, espero que não. Mas já acompanhei 3 casos idênticos: pessoa decide que vai ser escritor(a) de literatura fantástica; monta um blog; segue dois autores nacionais e já sai berrando: "as pessoas não leem literatura nacional! por favor, valorizem os escritores nacionais, eu incluso!". Daí você vai bater um papo com a criatura e descobre que não, ela não conhece um único autor nacional de fantasia. Nunca valorizou, nunca foi atrás de conhecer e já vem reclamando que não a conhecem :/

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    1. Oi, pena que você não assinou =/

      Mas confesso que não gosto desse termo "fandom", ele é muito desgastado aqui - não sei lá fora.

      E decidi publicar seu comentário porque eu concordo com o que disse.

      Sei de muitos casos em que o autor nacional não lê. Inclusive aconteceu comigo um interessante. Sou editora do Selo Fantas, da Editora Estronho, certo dia um autor iniciante chegou para mim e disse que seu livro seria totalmente inovador para os padrões brasileiros - isso acontece bastante, mas quero citar este caso em especial. Pois eu, já sabendo que não posso confiar quando autor diz isso, perguntei o motivo. Ele respondeu que o gênero de sua história não existia aqui. Parei e calmamente respondi: você deu uma olhada em nosso catálogo de lançamento deste mês? Pois estamos lançando um livro de um grande autor do gênero no Brasil.

      Quer dizer, se a pessoa nem se dá ao trabalho de saber o catálogo da editora em que quer publicar, imagina sobre o gênero e outros possíveis colegas?

      E xingar sem conhecer é fácil, o difícil é investir tempo para ler os livros nacionais, sejam clássicos ou contemporâneos.

      Abraços.

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  2. Priscilla R. Dutra20/03/2013, 09:03

    Não lembro o que os professores me falavam da lit. clássica brasileira, mas sei que eu carregava um preconceito em relação a ela. Tem pouco tempo que resolvi abandonar esse medo sem fundamento e agora tenho curiosidade de lê-los. Em casa, minha mãe lia romances de banca, mas sempre brigou cmg por causa dos livros (era gastar dinheiro a toa).
    Já falei e repito: Literatura fantástica nacional não é só Vianco, Draccon e Sphor. Sinceramente conheço outros autores que são melhores, mas n tem o sucesso desses.
    Infelizmente ainda existe isso de: o que vem do Brasil é lixo, preconceito dos próprios brasileiros. O que é uma grande besteira.
    Sobre o comentário acima: isso de "meu livro é novo e n tem nada igual no Brasil" me faz rir. Como o livro de zumbis q li resenha e tinha na capa que era o primeiro livro de zumbis escrito por um brasileiro...

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    1. É engraçado como esse preconceito, muitas vezes, vem da própria escola. Não lia clássicos por isso. Nunca os professores chegaram e disseram que clássicos são legais, era algo subentendido do tipo "temos que ler, somos obrigados".

      Verdade, não li Draccon pra saber, mas tem muito livro ótimo que não consegue esse lugar ao sol.

      É complicado dizer o que é primeiro quando se faz uma rápida busca no Google. Não sei se esse que você leu é ou não o primeiro... Mas é difícil autodizer isso.

      =*

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  3. Aqui em Portugal acontece o mesmo, com clássicos, autores de fantástico e outros. Ao ponto de acharem mesmo que não se publicam autores portugueses! Já numa linha diferente, também encontrei pessoas que dizem que lhes dá impressão ler ou escrever em Português! :(

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    1. Imagino que seja difícil o autor conseguir destaque, teve um caso recente de uma autora daqui que traduziu o texto para o inglês aí conseguiu uma editora lá fora, que nem imaginou que fosse brasileira. Uma editora grande daqui já comprou os direitos sem passar por leilão ou esperar a publicação lá. Quer dizer, se a moça tivesse mandado - se não mandou - o original para a editora nacional, será que ela teria ao menos sido lida?

      Num jornal português saiu uma matéria sobre a Valentina Silva Ferreira, autora de A Morte é uma serial killer e Distúrbio, falando que o Brasil a descobriu, mas Portugal não. Porque ela conseguiu publicação aqui antes.

      É interessante essa visão fechada não ser somente daqui, porque aqui tudo é segunda opção, o melhor vem de fora =/

      bjos

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  4. Eu li vários clássicos e muita literatura infanto juvenil nacional quando estava no segundo grau (porque não se chamava "ensino médio" ainda naquela época ;). A minha escola tem uma biblioteca fantástica e as bibliotecárias não julgavam uma menina de 10 anos por ler "O Tempo e o Vento".
    Mas depois que eu comecei a ler em inglês não procurei mais literatura nacional. Sinto falta, claro, nada como gente que descreve o mundo como a nossa cultura o vê, mas não sei por onde começar. Não gostei do que li do André Vianco, nem do Leonel Caldela, muito menos do Sphor. Procurando autores, comprei uma coletânea de contos que tinha tantos erros de português que me desanimou. Aí eu desisti.
    Quadrinhos nacionais, por outro lado, eu adoro e compro o tempo todo. Quadrinhos *independentes*, que, mesmo sendo vendidos direto pelo autor, são mais fáceis de encontrar do que livros. Vai entender.

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    1. Olá, Saoki, digo primeiramente que não desista da literatura nacional, posso indicar alguns títulos para você, alguns que sejam mais o seu estilo!

      Se quiser, me adicione no Facebook para que a gente possa conversar =)

      http://www.facebook.com/celly.borges

      E eu entendo o que você diz, também já peguei umas coletâneas com erros absurdos, aí fico pensando se alguém que nunca leu nada for se aventurar nisso, vai desistir logo. E foi o que aconteceu com você, mas espero que não pare por aí! =)

      bjos

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  5. Concordo plenamente contigo.
    falando e livros nacionais, acho que também deveria conhecer o livro "Alecognição", do autor Leo Vieira.

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  6. É realmente lamentável ver que o que é brasileiro é sempre desvalorizado, não só em relação a livros, mas também filmes/ já novela que raramente tem algo bom, o povo adora.
    Não posso dizer que leio muitos livros nacionais, mas os que eu li eu gostei, principalmente os clássicos, o que mais incomoda é quando um editora pega e fala "primeiro livro nacional que publicamos", afinal, livro nacional não deveria ser novidade em uma editora brasileira.
    Por isso é bom também a existência das editoras que fazem questão de publicar livros nacionais!!

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    1. Jessica, realmente é lamentável! Concordo e com você também na parte das editoras, assim como os leitores que ficam aplaudindo algo que deveria ser, por parte da empresa, um caminho adotado desde o início. O brasileiro tem sim vergonha de sua literatura, tanto que poucos leem os clássicos, que são maravilhosos e tem pra todo gosto!

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