16 de nov. de 2013

Resenha: "O menino no espelho", de Fernando Sabino

Confesso que demorei em conhecer Fernando Sabino. Meu primeiro contato com o autor foi através do livro O outro gume da faca, que li há pouco tempo, um policial de leitura muito rápida e intensa. Depois passei para O menino no espelho, onde descobri que minha infância tem muito da infância do autor.

Em casa havia goteiras no teto de casa, corríamos para colocar baldes, às vezes era triste, mas nem sempre. Brincar na água é muito divertido – até hoje.

Também praticamente cresci num terreiro gigante – moro na mesma casa, ou melhor, a casa já não é mais a mesma, mas o terreno sim –, com galinhas, gatos, pássaros, terra e muita, muita criatividade. E na casa dos meus avós, na área rural, que saudade daquele tempo! Sabino menino fazia caminhos na terra para que a água escorresse, salvou a galinha Fernanda de ir para a panela, e virou seu bichinho de estimação. Depois chegou o coelho e havia também um cachorro e a melhor amiga, Mariana, juntos formaram um grupo secreto, chamado Departamento de Investigações e Espionagem Olho de Gato.

Sabino conta diversas aventuras de sua rica infância, infelizmente essa magia está se perdendo. Crianças não brincam, não querem ser crianças e alguns adultos as fazem pular essa parte tão importante. Como certa vez, quando trabalhava em uma livraria de shopping e descia a escada rolante, um pai à minha frente dizia para seu filho, que deveria ter uns dez anos, que ele não era mais criança para acreditar em Papai Noel. Ou quando, na loja dos meus pais, uma menina pegou uma mola-maluca, o pai a olhou e disse “você tem onze anos, não é mais criança”, ela largou o brinquedo, triste. Eu também fico assim com essa reação dos pais, que cortam os sonhos e as brincadeiras, quem sabe esses pequenos não crescerão cinza e sem alegria?

Há a necessidade de se crescer – claro, qual criança não brincou de ser adulto? Mas não era real! –, alguns pais estragam seus filhos. Hoje não se brinca mais em montes de terras e areias, tudo é perigoso, tudo contamina, andar descalço é absurdo. Meninas precisam de salto e maquiagem. Tudo é perigoso. Até mesmo ser criança.

Ver que ser menino e menina que brinca na terra ou areia, faz clubinho secreto, se esconde para jogar água em quem passa na rua – ué, vocês nunca fizeram isso? Eu também não, imagina! –, ver que essa magia está se perdendo, é muito, muito triste.

E, dessa forma, tudo se acaba, daqui a pouco aquelas lojas especializadas em brinquedos – sempre sonhei em ter uma assim – não existirão, ou melhor, mudarão o foco do “brinquedo”. E a vida segue cinza.

O que você quer ser quando crescer?, há a pergunta na capa, logo abaixo do título em laranja, que está abaixo do nome do autor em preto, que é grande na capa, para que os leitores saibam que não importa o título, é Fernando Sabino e é bom.

Fernando dizia que "Quando eu era menino, os mais velhos perguntavam:
- O que você quer ser quando crescer?
Hoje não perguntam mais. Se perguntassem, eu diria que quero ser menino".

O menino no espelho (Editora Record, 1989, 208 páginas, R$38) é comparado com Tom Sawyer, Mogli, Alice, Gulliver, Pinóquio e o Pequeno Príncipe, e realmente Fernando menino teve uma vida cheia de aventuras, como os personagens clássicos. O livro tem histórias fantásticas, com um final que me fez chorar. Ele fala da infância mágica do autor, que nos deixou em 11 de outubro de 2004. Ele nasceu em Belo Horizonte, no dia das crianças. Faleceu em sua casa em Ipanema, RJ, um dia antes do seu aniversário de 81 anos. Pediu que seu epitáfio fosse: "Aqui jaz Fernando Sabino, que nasceu homem e morreu menino!"

E o que eu queria ser quando crescesse? Isso foi o que eu sempre disse: nunca quero crescer, quero ser criança para sempre.

Serviço
Editora: Record
ISBN: 8501915505
Páginas: 208
Skoob | Editora Record  
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6 comentários:

  1. Ah, que saudades dos clubinhos!

    Sabino é maravilhoso, não consigo não amar tudo o que ele escreve.

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  2. Nunca li Sabino. Concordo com vc, a infância vem se perdendo aos poucos. Parte disso é culpa da violência em si, mas grande parte tb é culpa dos pais. Não tem mais aquele negócio de brincar na rua e até dormir na casa da amiga da escola agora é raro. As crianças brincam sozinhas e os pais assim preferem por ser mais seguro.

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    1. Acho que a grande culpa é dos pais, mesmo que tenha a violência, se pode muito bem brincar em casa, em apartamentos.. é só usar a criatividade, mas muitos pais não têm mais tempo para nada, e as crianças brincam sozinhas por isso.

      Leia! =)

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  3. Gostei muito da sinopse de seu livro, O Menino que Perdeu a Magia - sou encantado por quaisquer livros que envolva um mundo de fantasias. Gastaria também se houvesse alguma resenha sobre ele neste blog, pois a sua forma de escrever daria vida às palavras.

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    1. Olá, Lucas, tudo bem?

      Obrigada pelas suas palavras, mas não acho que seria legal eu escrever sobre meu livro, até porque o que eu quis falar sobre ele está na própria história, né?

      Espero que você goste o livro e mantenha sempre a sua magia ^_^

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