15 de jul. de 2012

Resenha: 2083 - Vicente Muñoz Puelles

Um livro que fala de livro. E eu adoro isso!

Histórias que citam livros me encantam, me fazem viajar e querer ler mais e mais, tanto a própria obra quanto as citadas. E 2083 (Editora Biruta, 112 páginas, R$32) mencionou alguns títulos clássicos, como David Copperfield, de Charles Dickens, Dom Quixote, de Miguel de Cervantes e outros.
2083 é narrado por David, um menino de 16 anos, que descobre ou redescobre os livros e se encanta por eles. O autor Vicente Muñoz Puelles (1948), viajou para o futuro e criou uma história em que os livros teriam desaparecido, ou melhor, em 2050 eles teriam simplesmente acabado, claro que esse processo vinha de anos, as pessoas não liam mais, não tinham nenhum interesse em livros, então foram se desfazendo dos títulos até que restaram poucos.

“Se os livros eram tão emocionantes, por que haviam sido proibidos?
– Eles não foram proibidos porque não foi necessário. Simplesmente, as pessoas deixaram de ler livros”.

As antigas páginas da internet (agora chamada de Cosmonet) haviam caducado, por isso muitos títulos não eram mais encontrados, alguns foram digitalizados, assim na época em que se passa o romance os poucos interessados podiam viajar através das histórias. Isso mesmo, através de um local chamado Bibliotravel era colocado um sensor no viajante e ele era transportado para dentro do livro, vivendo todas as aventuras através dos olhos de um dos personagens, inclusive poderia mudar o rumo da história, mas a real, que estava no livro, não seria afetada.

David descobre que seu bisavô escreveu um livro, mas Pa, como chama seu pai, não o permite ler o único exemplar que há em casa, pois está fechado em uma caixa a fim de evitar a ação do tempo. O menino, curioso, mexe onde não deve, e precisa recuperar ou ao menos conseguir uma cópia de A ilha dos livros perdidos para repor. Enquanto isso passa por diversas histórias na Bibliotravel, inclusive uma de amor. 

O único amigo de David, Marc, se mudou para os Estados Unidos, e pouco se importava com David, que às vezes queria contar sobre suas descobertas, mas o outro não deixava e falava e falava de si, ele era mais um dos que não se importavam, nem com livros, nem com o amigo.

Hoje o futuro do livro é muito discutido, mas fica quase somente na questão do livro físico e eletrônico, raramente se vê o debate do fim pela não leitura. E 2083 fala dessa parte. Atualmente não se lê como antes, praticamente porque não há tempo, o desinteresse também se faz presente. A TV cuida do entretenimento efêmero, que é basicamente a busca hoje. Até mesmo programas que falam de livros são raros, não há público.

Ler virou símbolo de status e não necessidade de conhecimento e diversão, quem lê às vezes é tido como metido a culto, e infeliz. Eu mesma já passei por vários olhares de um tipo de censura ou uma quase compaixão. Quando as pessoas me viam com uma obra diziam “você gosta de ler, isso é tão bom”, os olhares transmitiam pena e continuavam, “é muito bom ler, eu não tenho tempo”, só faltava a batidinha na cabeça como quem diz “pobrinha, não tem amigos”, e isso é real, aconteceu bastante!

2083 é um livro juvenil rápido e gostoso de ler. Recomendado para quem gosta de histórias que falem de livros e não quer que esse futuro se torne real.
“Um livro é realmente como um sonho, onde tudo pode ocorrer”.
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Editora: Editora Biruta
ISBN: 9788578480431
Ano: 2010
Páginas: 112
Tradutor: Sandra Nunes e America Marinho
Skoob | Editora Biruta | Leia a Sinopse
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Leia também
Dez mil – autobiografia de um livro – Andrea Kerbaker
Fahrenheit 451 – Ray Bradbury

Sobre o autor
Vicente Muñoz Puelles nasceu em Valência, em 1948. É autor de diversos romances, narrativas eróticas, romances históricos, biografias, livros de contos e livros infantis. É considerado pela crítica literária como um dos mais importantes escritores na língua castelhana do nosso tempo. Recebeu diversas premiações, suas novelas e romances já foram traduzidos para o mundo todo. Além de textos para adultos, escreve para crianças e jovens e publica artigos e crônicas em diversos jornais e revistas da Espanha. Em 1999 obteve o Prêmio Nacional de Literatura Infantojuvenil, outorgado pelo Ministério de Educação e Cultura da Espanha. Em 2004 foi o vencedor do Prêmio Anaya Infantil e recebeu a indicação White Ravens para constituir o catálogo da Biblioteca de Munique, Alemanha. Em 2007 foi vencedor do Prêmio Minotauro – Prêmio Internacional de Ficção Científica e Literatura Fantástica.

3 comentários:

  1. Este livro estava na meu desejados no skoob faz tempo e agora minha vontade de ler aumentou bastante.
    Ri muito do último paragrafo, mas é verdade. As pessoas ignoram o livro, mal sabe elas que o entreterimento que assistem foi escrito e lido por atores, diretores, etc...
    Que legal poder viajar para dentro da história de um livro, se isso fosse possível hoje...

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  2. Que sirva de reflexão, espero que não chegue a esse ponto. Se chegar, será triste e serei uma contraventora literária, rs. Mas não deixarei de ler, enquanto tiver vistas, ou ouvido para audiolivros (embora isso só em caso de extrema necessidade, rsss...)!

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