28 de nov. de 2011

Dica de leitura + entrevista: Distúrbio - Valentina Silva Ferreira

Rossana, 13 anos, tem tudo para ser uma menina feliz: pais ricos, três irmãos que a amam e uma beleza fora do comum. Contudo, Rossana não quer ser bonita. A beleza atrai coisas que não deseja a ninguém. A mãe, frustrada por uma carreira de pouco sucesso, coloca na filha todas as suas ambições e desejos.

Procura na figura do pai, um aliado, mas acaba encontrando sofrimento, a menina ingênua se vê transformada em mulher... a mulher daquele que deveria protegê-la.

Sofre uma infância terrível. Submetida aos abusos físicos do pai e às exigências quase sobre-humanas da mãe, conhece, demasiado cedo, mundos que nem os adultos têm capacidade para enfrentar: o sexo sem amor, as drogas, a falta de proteção...

O mundo da moda lhe fora imposto a duras penas e tudo que ela quer é ser criança.

Conheça a história intensa, cruel, real... de Distúrbio.

Apesar de ser um tema pesado, me encantei com a Rossana de Distúrbio, a história muito bem escrita pela talentosa Valentina Silva Ferreira, com uma linguagem bela, como é comum aos portugueses, apresenta ao leitor nada além da realidade que muitas crianças passam por conivência dos pais, parentes, amigos, em todo o mundo. A leitura por vezes mostra a inocência, outras o abuso, o crescimento rápido, a falta de carinho, de atenção. Rossana, a protagonista que sofre maus tratos psicológicos e físicos, inicialmente não percebe que ao ser induzida a tornar-se a mulher do pai comete algo errado, mas ela é uma criança, não entende do mundo adulto, o qual é obrigada a assumir. Aquele que deveria ensiná-la a destrói aos poucos, a rapariguinha, como se diz em Portugal, é humilhada, maltratada, e sua infância é roubada por aqueles que a colocaram no mundo, aqueles a quem chama de pais.

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Editora: Estronho
ISBN:
Ano: 2011
Páginas: 180

Entrevista 

Mundo de Fantas: Como foi escrever Distúrbio, conte-nos o processo.
                                         
Valentina Silva Ferreira: Escrever Distúrbio, aos dezenove anos, foi a minha maior aventura. Em primeiro lugar, porque eu só escrevia contos; segundo, porque sabia que o tema traria dúvidas por parte de outras pessoas; e terceiro: eu não fazia ideia de que escrever um romance implicaria uma mudança tão grande em mim. Passo a explicar. Na faculdade, qualquer um ocupa as suas 24h com coisas normais da idade. Nos cinco meses em que me dediquei ao livro, eu estudava, mas queria escrever; eu não estava com os amigos, nem ia a festas ou ao cinema. Resumindo, eu não tinha tempo livre. Eu escrevia. Ouvia, muitas vezes, quem me dissesse que, depois daquele, eu não escreveria mais porque era um compromisso demasiado grande, porque roubava muito de mim, porque eu deixava tanta coisa de lado para poder concentrar-me exclusivamente a ele. Enganaram-se. Foi com Distúrbio que eu percebi que escrever é o que me faz completamente feliz, não só pelo prazer do próprio ato, mas, também, por poder colocar no papel situações que sempre me afligiram, como é o caso da pedofilia. Quem me vai conhecendo literariamente, sabe que esse é um tema que muitas vezes abordo. E com esses, muitos mais virão porque eu encontrei na escrita um exorcismo para todas as frustrações que vou sentindo ao longo do meu percurso acadêmico – e mais tarde profissional – no mundo do Direito. Há quem escreva para respirar. Eu escrevo para me limpar.

MdF: Deixe dicas de leitura, pode ter ligação com o assunto do livro e outros que achar importante indicar para seus leitores.

VSF: Quando me perguntam qual o meu livro favorito, eu digo que tenho um top 5 (que irá crescer ao longo dos anos). São livros que me fizeram odiar/amar personagens, que me soltaram valentes gargalhadas e lágrimas e que me transportaram para outro mundo. Tudo na mesma leitura. Lolita, de Vladimir Nabokov é, sem qualquer dúvida, o cabeça da lista. Nabokov conseguiu, dentro da mesma obra, escrever um romance, um policial noir e um livro de viagens. Somos transportados de gênero em gênero com uma subtileza tão bem escrita que nem damos por essas mudanças. Recentemente, li A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón, um livro tão rico em narrativa, detalhes, exploração de sentimentos e com as personagens mais incríveis que já vi – acreditem, vão adorar o personagem Fermín. José Saramago em Ensaio Sobre a Cegueira chocou-me com a crueza das cenas, com a magistralidade da ideia e com críticas sociais que raramente pensamos porque vivemos demasiado concentrados no nosso próprio umbigo. Apaixonei-me pelo O Carteiro de Pablo Neruda, de Antonio Skármeta, por ser, talvez, o livro mais doce – e repare-se que doce não significa light – que alguma vez li, com passagens narrativas dignas de serem passadas para um caderno, lidas vezes sem conta e decoradas. É um livro que me faz suspirar. E, finalmente, em Como Água Para Chocolate, de Laura Esquivel, mergulhamos no surrealismo latino-americano que, na minha opinião, é das literaturas mais apaixonantes, envolventes e ricas em descrições de texturas, cheiros, paladares e emoções.

Sobre a autora
Valentina Silva Ferreira nasceu em 1988, na Ilha da Madeira. Concluiu a licenciatura em Direito em 2010 e faz Mestrado em Ciências Jurídico-Criminais. É uma das autoras selecionadas das seguintes antologias: Cursed City; Série VII Demônios - Gula, Série VII Demônios - Inveja; Lugares Distantes; Jogos Criminais II. É colaboradora da revista on-line Magazon e da revista impressa JA (Associação Acadêmica da Universidade da Madeira). Escreve no blog http://paraisobiblioteca.blogs.sapo.pt/

Serviço:
Distúrbio será lançado dia 10 de Dezembro de 2011
Às 18h30min
No Pier 1327, Joaquim Távora, 1327 - Vila Mariana - São Paulo/SP
Informações: (11) 5539-6213

Livraria Estronho

5 comentários:

  1. Valentina Silva Ferreira28/11/2011, 13:33

    Obrigada, Celly. Fico muito, muito contente que tenha gostado do livro :)
    Beijos,
    Valentina.

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  2. Gostei muito, mocinha, é uma triste realidade, que poucos têm coragem de contar, parabéns pelo belo trabalho, e obrigada por confiar em nós =)

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  3. Esse livro parece ser muito bom mesmo!
    Desde o desenho da capa, a fonte do título e a trama da história.
    Deve valer muito a pena xD


    Muito legal o que a Valentina disse, que escrever é o que a deixa feliz!
    Lolita é um livro excelente, Nabokov criou uma das tramas mais complexas que já li.

    muito bom mesmo!

    grande abraço!


    Pedro Almada
    @Pedro_Almada
    http://inspirados-oandarilhodotempo.blogspot.com/

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  4. Pedro, cada minuto de leitura valeu, o português de Portugal é mais culto, dá ainda mais prazer na leitura... e a forma como a Valentina escreve é incrível, ela sabe bem prender o leitor até a última página. =)

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  5. Estou ansioso por ter esse livro... A Valentina é certamente uma grande escritora. Não há argumentação contraditória possível, as palavras falam por si.

    Terá de certo um futuro brilhante, o trabalho exemplar demonstrado, toda a qualidade e a forma de escrever... Óbvio como aqui já foi dito, o leitor ficará "preso" ó livro.
    Parabéns Valentina.

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